Maureen Bisilliat mostra a importância da escrita em sua trajetória como fotógrafa na Fiesp

A comutação entre imagens e textos produzida ao longo da vida pela fotógrafa Maureen Bisilliat liga ficção e realidade. Diversos ensaios da artista foram baseados em romances de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, e retratam a verdade de suas histórias com personagens reais do sertão. A exposição possui também essa marca, em que o texto faz parte da imagem e a imagem faz parte da escrita.

As Caranguejeiras

As 200 fotografias da mostra foram extraídas do acervo Instituto Moreira Salles que detém cerca de 16.000 imagens de Maureen. A escolha das fotos e edição das imagens foi feito pela própria autora, o que torna a exposição um caminho direto pela maturidade e talento dela. Para cada seção, um texto ou poesia sintetiza o sentimento ali existente. A disposição de cada elemento em perfeita harmonia – textos curtos, fotos grandes, textos iluminados e fotos no escuro – são exemplos da sofisticação da exposição e do respeito entre os autores envolvidos e suas obras.

Segundo a própria autora, em texto na abertura da exposição, a busca pelos caminhos da literatura que resultaram nos ensaios, vem de um desejo de escrever com imagens e ver pelas letras. Uma ligação cada vez mais forte com o advento digital, onde o ambiente cibernético explora as imagens com conteúdo quase gramatical.

Maureen veio da Inglaterra para o Brasil em 1957 depois de estudar pintura em Paris e em Nova York. Ficou em São Paulo e trabalhou nas revistas Realidade e Quatro Rodas. De seu trabalho como fotojornalista, estão expostas fotos da China, As Caranguejeiras e Mangueira. O Cortejo Luminoso, com a nobreza de Suassuna, trás imagens de vaqueiros antes e depois de vaquejadas.

A série Pele Preta, mostra Maureen ainda estudante, fotografando modelos vivos, e abriga um destaque da exposição. Na foto, um menino negro com asa de anjo segura uma flor com uma janela iluminada ao fundo. Outro destaque fica por conta do Grande Sertão Veredas, retratado com uma noiva sentada ao lado de duas pessoas com uma cortina de plantas ao fundo. O detalhe fica por conta de um rapaz que abre a cortina para espiar e mira a lente de Maureen. Ao descobri-lo, é impossível não levar um susto. “Punctum!” diria o francês Roland Barthes.

Fotos do Xingu, solicitadas e acompanhadas pelos Villas Boas, Orlando e Cláudio, estão no breu da exposição e da mata. Pontuadas com a exibição do longa dirigido pela fotógrafa, e por objetos indígenas como um cocar, uma canoa e uma roda de madeira, a beleza altiva e anatômica dos índios do Xingu é apresentada.

Chapas de fotolito e um vídeo mostrando o processo de impressão fazem parte também de um resgate à editoração impressa por vezes ignoradas no ambiente digital que aos poucos o substitui. Livros, objetos e anotações da autora compõem também a exposição.

Serviço:

Local: Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso – Metrô Trianon-Masp
Data: 02 de março até 04 de julho de 2010.
Entrada: Franca

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